Gosto de escrever, muito embora as vezes cale minha escrita
para o grande público, prefiro guardar essas coisas que tocam no peito, na
alma, no corpo e na epiderme. É fácil dedilhar as letras e formar palavras
quando se é tocado por mediações do mundo que te implicam.
Confesso que as palavras saem como se fossem partes de mim, talvez
o fato de me dar e doar ao outro facilite esse me perder em palavras, frases, sentenças.
Dar parte de mim é entregar meus medos, minhas inseguranças, talvez entregar
essas partes seja coisa da maior banalidade, mas o que são as coisas do mundo
que não banais? Essas só deixam esse posto quando se dá a devida importância,
cor, cheiro a elas.
Decidi que na minha vida tudo teria cor, tudo teria cheiro e
teria parte de mim, mesmo que para isso eu tenha que me submeter a entregar
pedaços de mim pelo mundo. E me entreguei, sem dó de mim, do meu peito
calejado. Em algum lugar as coisas que você deixa são vistas por alguém, e esse
alguém que consegue te ver é alguém disposto a deixar parte dele com você, seja
que parte for. Lembre-se, nós somos afetos sejam eles bons ou ruins, ser
afetado, transportado a um mundo do outro implica conhecer e reconhecer a tragédia
de ser existente.
Não me permito negar o amor, amor de viver, de estar aqui! Seja
a sós seja a dois, a três a quatro patas. Cada um ama aquilo que permite
receber do outro e dar de você, não sou carente de amor deixo avisado, embora
ame de mais, sou adepta do estar junto seja como for, amor maior para mim é ser
um, mesmo quando se é bem mais que isso.
O espaço de estar junto é sufocante, amargo as vezes até
doloroso, mas estar junto é necessário para ser, sou brega, sou uma romântica nata,
sou amante das coisas triviais, aquelas banais lembram? Aqueles roteiros bregas
de filmes que eu insisto em dizer que não gosto, talvez negar seja minha
defesa, seja os calos gritando suplicas de piedade, “ me deixe em paz! ” – Posso
ouvir- Adoro declarações de afeto, mesmo que for para dizer em uníssono que me
odeia, que me adora, que me detesta ou me ama. Seja como for gosto das
declarações em textão, em textinho em minúsculas demonstrações.
Escrevo canções sabia? Canções que falam da vida do universo
e tudo mais que há em mim, canções que canto para dormir, que canto quanto
estou feliz, canções cantadas principalmente em dias de chuva como o de hoje,
onde é preciso deixar parte de mim e seguir a diante, deixar essa parte
suplicante falar o que lhe atormenta, decidi buscar o por que escrevo, acho que
escrever alivia e me aponta para aquilo que quero e que nego querer. Saber de
mim, dessa parte que me deixa exposta é saber que sou comum, que sou apenas
mais uma andando por aí, e você jamais desconfiaria que sou eu que estou nesse
momento ouvindo uma música aleatória, ouvindo a chuva cair, sentindo sobre mim
uma claridade noar, uma imensidão no peito.
Hoje dizer que sinto amor em mim, é dizer que aprendi a me
amar de novo, e aprendi a aceitar o amor dos outros, os afetos dos outros,
dizer que gosto sim de filmes bregas de amor é dizer que eu sou sim banal,
trivial, comum, sou apenas eu. Como é bom ser apenas eu, sem me impor ser muito
mais por necessidade ou coerção. Sou EU com os nós, os pontos as virgulas, as
faltas, parênteses e reticências, e que hajam muitas reticências...